A relação que o público jovem brasileiro estabelece com o consumo

Nos últimos anos os brasileiros têm vivenciado a valorização do salário mínimo nacional e o aumento da renda média anual da faixa trabalhadora da população. Em matéria publicada no InfoMoney (2011), o Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística mostra que o poder de compra do brasileiro aumentou 19% entre os anos de 2003 e 2010. Essa ampliação da renda mensal permitiu ao cidadão incluir novos objetos de desejo entre os itens da sua lista de consumo.

Para Zocolaro (2013), o novo poder de compra redefiniu o que antes era considerado classe média, e junto com essa adequação de perfil da classe econômica, foi redefinido o comportamento de consumo desta classe. Os consumidores que antes não poderiam comprar marcas e produtos considerados de luxo agora podem adicioná-los à sua lista de gastos.

O mercado, respondeu a mudança do comportamento de compra da classe média e ampliou a oferta de crédito e dos demais serviços para o novo consumidor. Por sua vez o Estado, com a intenção de estimular a economia e diminuir a desigualdade social, também criou programas de crédito e financiamento para levar até a população com menor renda o acesso aos bens que antes eram obtidos com facilidade apenas pela faixa da sociedade com maior poder aquisitivo.

Dutra (2008) nos mostra que o resultado da oferta de valores de crédito feita pelas mídias alcançou um acréscimo efetivo de 27,9% em 2008 quando comparado com os valores emprestados no mesmo período do ano anterior. Este novo poder de compra, que é estimulado pela renda valorizada e pela oferta de produtos de crédito facilitado, aliado à irresponsabilidade de consumo são alguns dos motivos que causam o endividamento. Em matéria publicada pela Agência Brasil, o IBGE aponta que 27,9% das famílias brasileiras possuem dívidas grandes ou elevadas e as outras 71,7% das famílias possuem dívidas pequenas que poderiam ser quitadas naquele mês.

A relação que o público jovem brasileiro estabelece com o consumo

Segundo declaração do terapeuta financeiro e Presidente da DSOP Reinaldo Domingos, o jovem brasileiro estabelece uma relação irresponsável com seus recursos financeiros. O índice de inadimplência entre os jovens é consequência de três motivos citados pelo educador financeiro: a) a falta de consciência sobre as suas finanças para não gastar além do que se recebe, b) o grande estímulo ao consumo criado pelas campanhas publicitárias e, c) a grande oferta de crédito fácil.

Gorczeski (2011) complementa as afirmações de Domingos citando, ainda, dois fatores que estimulam o ato de consumo entre os jovens. Para o autor, a necessidade de suprir a falta do convívio com os pais e, ainda, as compras facilitadas pela internet são os dois grandes estímulos que os jovens precisavam para comprar de forma irresponsável.

Indo de encontro aos pensamentos de Domingos e Gorczeski (2011), Cerbasi (2013) ilustra suas afirmações sobre o consumo inconsequente usando como exemplo uma situação emocional. Segundo o consultor, quando o ser humano está em momentos de baixa satisfação, como a carência ou tristeza, ele também está propenso a se render as tentações do marketing e comprar para suprir outras faltas. Quanto mais imaturo financeiramente o indivíduo for, maior será a facilidade para ele consumir sem controle.

Dados do Instituto de Economia Gastão Vidigal (2010, apud Gorczeski, 2011) nos mostram que 41% dos jovens paulistanos com idade entre 21 e 30 anos estão inadimplentes com suas dívidas, e destes, cerca de 60% afirmaram não ter meios de quitar as dívidas dentro de um mês.

Deficiências na gestão financeira entre o público jovem

Em grupo focal realizado com quatro participantes, jovens, com idades entre 21 e 29 anos, trabalhadores e com renda mensal superior a R$ 2.000,00, foram discutidas as situações de consumo não planejado que testavam sua disciplina e seu comprometimento quanto a gestão de seus recursos financeiros.

Todos os participantes do grupo focal afirmaram possuir desejos de consumo, nomeados intimamente pelos próprios participantes como “sonhos e metas”. Quando questionados sobre qual a quantia acumulada (montante) que eles possuíam para adquirir o produto que eles desejavam, um dos integrantes afirmou que possuía um valor “insignificante” guardado, era um montante que não atingia 10% do preço do bem desejado. Os demais participantes afirmaram que não possuíam nenhuma quantia exclusivamente destinada a realização do objetivo de consumo.

Ao falar sobre qual o motivo que os impede de começar a reserva do valor para alcançar suas pretensões, todos os participantes alegaram que o valor de sua renda mensal não era o suficiente para juntar o montante que proporcionaria a concretização de seu sonho.

Em contradição ao problema que foi levantada pelos quatro convidados do grupo focal, Cerbasi (2011) afirma que quando pretende-se conquistar um sonho, a reserva de recursos destinada ao objetivo de consumo deve ser priorizada. Para o autor, o erro no comportamento da grande parte das pessoas é pensar em investir em seus ideais de sucesso apenas com os recursos financeiros que sobram dos gastos mensais, sendo que o correto é reservar o valor de comprometimento com o seu objetivo de vida e, somente depois, distribuir a sobra da renda entre os seus gastos, se necessário, adaptando-os ao valor que restou.

Para Macedo Junior (2007) o planejamento financeiro servirá de guia e orientação na vida financeira do indivíduo, com ele será possível identificar quais são os passos necessários para se obter o sucesso pré-definido, indiferente de qual seja esse sucesso.

Quando os participantes do focus group foram questionados sobre quais custos não têm grande prioridade em suas vidas, eles citaram os custos relacionados ao entretenimento como sendo gastos supérfluos. Em um terceiro momento, ao final do encontro, os quatro participantes afirmaram que na verdade os valores de todas as áreas podem sofrer redução de gastos e não apenas os da área de entretenimento.

Através da análise dos relatos sobre o comportamento de consumo apresentados pelos participantes, e também, sobre as considerações a respeito da gestão de finanças apresentadas por Cerbasi (2011) e por Macedo Junior (2007) notou-se que existe a necessidade de estimular o controle financeiro entre o público jovem. Esse estímulo deve acontecer a partir da conscientização do jovem sobre seu perfil de consumo, sobre suas necessidades de consumo e sobre seus desejos, para que posteriormente seja possível construir um plano de gestão financeira baseado nestes objetivos.      

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